Como
agora eu tenho certeza que João Ubaldo não era um terráqueo ;)
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De que planeta és tu? |
OBSERVAÇÕES
Quando
eu digo que é uma experiência, quero dizer assim para vocês: “Façam um favor a
si mesmos: leiam este livro!”
Quando
digo que João Ubaldo Ribeiro não era terráqueo, quero dizer: “Ele era fenomenal demais.
Só pode ter vindo aqui pra este planeta de empréstimo...”
A
história de VIVA O POVO BRASILEIRO é impressionante em tantos aspectos, que me sinto
na obrigação de registrar que, nenhuma resenha, nenhum sumário poderá suprir um
milésimo de sua função, ou seja, não será capaz de representar o que o leitor
irá vivenciar durante a leitura desta obra.
Em
outras palavras, para um livro como este, as resenhas devem ter a função maior
de criar a vontade de enveredar na leitura. E é isto que tentarei fazer aqui.
Serei breve, mas vou
começar, literalmente, do começo. Ou melhor, de um pouco antes do começo. Vou
mostrar para vocês a epígrafe.
"O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias."
E já
entrei no livro com um monte de questionamentos em minha cabeça:
Fatos e História estão sempre relacionados?
Os fatos sempre entram como parte da História?
A História consegue expor, satisfatoriamente, todos os fatos ocorridos?
A epígrafe mais funcional já
escrita. Ela me colocou em um “humor” direcionado para todo o tom e o mote
dos eventos contados.
E
digo para vocês uma coisa: terminei o livro com todas as perguntas devidamente respondidas!
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Ponto de Leitura, 789 páginas. |
VIVA O POVO BRASILEIRO pode ser descrito, de uma forma simplista, assim: uma olhada em 400 anos da História do Brasil em pouco menos de 800 páginas.
É basicamente isto? É sim, é basicamente isto. Mas João Ubaldo era "João Ubaldo", então o negócio todo vai para um nível bem lá no alto!
"Coisa de gênio, meu filho...!"
Contada em momentos variados do século 17 até o século 20, a maior
parte da trama acontece na Bahia, mas outros lugares também aparecem como
cenários mais ou menos eventuais. Há VÁRIOS núcleos e dezenas de personagens.
Algumas obviamente APARECEM mais e por isto mesmo são mais desenvolvidas, porém, me
atrevo a dizer que TODAS são extremamente importantes para a construção deste
universo.
Em
relação às personagens, ainda, o que me chamou muito a atenção foi o modo nada
uniforme em criá-las e apresentá-las para o leitor.
Explico:
Algumas personalidade
ficam “explícitas” para nós em um primeiro parágrafo. Cinco, seis linhas e POW!, lá está a informação
e a imagem fundamental para o entendimento do caráter dela (é o que
acontece quando somos apresentados a PERILO AMBRÓSIO GÓES FARINHA).
Em outros
casos, passamos páginas e páginas, inúmeras situações nos são apresentadas, até dá aquele clic, e a
gente pensar: “Ah, tá! Agora entendi...!” (No meu caso isto aconteceu com LELÉU. Demorei até sacar qual era a dele e de que matéria ele era feito.)
O
sarcasmo e a ironia são outros pontos marcantes. Dois traços da escrita de João Ubaldo que costuram todo enredo, mas de uma forma muito fluente e nada
forçada. Com isto, mesmo estando presentes em momentos dramáticos da história, eles
(o Sr. Sarcasmo e a Dona Ironia) não abafam nem escondem o drama e a gravidade
de inúmeras situações mostradas.
"Embravecidos e correndo sobre a imensa coroa de areia firme com uma hoste de demônios, os portugueses praticaram tamanhas atrocidades que livros de versos foram escritos sobre elas e o ódio dos muitos ofendidos ainda hoje não se aplacou nos corações de seus descendentes. A artilharia que ficou na praia e na fortaleza foi aviltada, a pólvora ensolvada, as peças de ferro cravadas e postas a rolar pelo capim e pelo barro. A igreja de São Lourenço foi invadida, arrancado o manto do Nosso Senhor dos Martírios, destruído o oratório de Vera Cruz. E tantos sacrilégios se cometeram que, já não estivesse Deus do lado brasileiro por justiça e vocação, para ele se bandearia agora, diante da algozaria do inimigo."
Digo que este é, também, um livro de lições! Muitas e muitas lições de como encarar a vida, como lutar por ela e como aproveitá-la. Como diferenciar o certo do torto, o justo do injusto.
"Mas este conselho lhe dava: que não fosse boba, que não confiasse, não confidenciasse e não desistisse com facilidade; que não fosse mentirosa, mas também não imprudente; que não quisesse lutar sempre do mesmo jeito, mas que tivesse para cada luta um jeito próprio, dependendo sempre das circunstâncias; e que gostasse dele, porque ele gostava tanto dela que o coração doía e, se não tinha sido melhor avô, fora porque não soubera, mas tudo o que sabia e procurara aprender tinha feito para ela."
Canibalismo, escravidão,
maldade, traição, mentira, corrupção. Justiça poética, amor, solidariedade, força,
luta por um ideal, verdade. VIVA O POVO BRASILEIRO tem de tudo, assim como
nossa História, por mais nebulosa que ela seja.
Um
livro necessário e fundamental para todos nós, filhos deste solo!
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Leiam João...! |