"Graças a uma boa fortuna que lhe deixara o pai, Soares podia gozar a vida que levava, esquivando-se a todo o gênero de trabalho e entregue somente aos instintos da sua natureza e aos caprichos do seu coração. Coração é talvez de mais. Era duvidoso que Soares o tivesse. Ele mesmo o dizia. Quando alguma dama lhe pedia que ele a amasse, Soares respondia:
- Minha rica pequena, eu nasci com a grande vantagem de não ter cousa nenhuma dentro do peito nem dentro da cabeça. Isso que se chama juízo e sentimento são para mim verdadeiros mistérios. Não os compreendo porque os não sinto."
LUÍS SOARES é o segundo texto do livro CONTOS FLUMINENSES e o melhor desta coletânea, em minha opinião.
EDITORA GLOBO, 218 páginas. |
É a história de um playboy, que troca - literalmente - o dia pela noite e vive, muito bem obrigado, das rendas deixadas pelo pai.
Um cara indiferente a tudo que não seja seu próprio prazer.
"Olhava para todas as grandes cousas com a mesma cara com que via uma mulher feia. Podia vir a ser um grande perverso; até então era uma grande inutilidade."
Mas um belo dia "a casa cai" e ele se vê sem um tostão (ou conto de réis) no bolso.
Tendo ainda vivo um tio rico, é nele em quem Luís Soares cola, para tentar, de alguma forma, colocar as mãos em sua fortuna.
Machado é implacável com a falta de escrúpulos da personagem e expõe sem filtro tudo o que ela pensa e planeja para tentar se dar bem.
Prestem atenção em ADELAIDE, uma personagem "porreta" e em ANSELMO, hilário.
Com eu disse, minha história preferia deste livro e uma das que mais gosto dentro do conjunto de contos Machadianos.
Texto bem construído, trama redondinha, com personagens sólidos e um final estupendo.
Um beijo e ótimas leituras.