Ô meninas complicadas...
Sou uma apaixonada por personagens de romances. Sério!
Acho que todos que me acompanham por aqui já notaram isto.
Enquanto eu estou lendo um livro perco completamente a noção de realidade e ficção. Durante o tempo da leitura todas aquelas pessoas que fazem parte da história tornam-se reais para mim. Reais mesmo.
Isto significa dizer que desenvolvo um relacionamento (unilateral) com todas as personagens que conheço, e quando eu leio e releio e releio..., as personagens revisitadas acabam virando da da família.
Como em toda família, existem aquelas pessoas com as quais a gente se dar super bem, e existem aquelas que temos que aguentar porque não há outro jeito.
Sabe aquelas criaturas que se você pudesse, mandava pra terapia em 1,2,3 e já? Pois é, se eu pudesse mandar personagens de ficção para o terapeuta, Helena, Iaiá e Estela seriam as primeira da fila.
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1876 |
"Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes por excelências eficazes. O que a tornava superior e lhe dava a probabilidade de triunfo, era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda casta de espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres."
(Eu não sei vocês, mas toda vez que leio esta descrição de Helena tenho vontade de gritar!)
Mas vamos à história...
O Conselheiro Vale morre e deixa estipulado em testamento que uma filha natural, até então desconhecida, deve herdar uma parte de seu legado e ser acolhida em casa por Estácio (filho legítimo do Conselheiro) e Úrsula (irmã do falecido).
Estácio, por incrível que pareça, acha tudo normal e aceita a irmã numa boa. Já Úrsula torce o nariz e, inicialmente, hostiliza a moça.
Helena, como já indicado na citação, consegue se adaptar e encantar a quase todos ligados à família Vale.
E os conflitos residem neste quase, e no pequenino detalhe de Estácio (sim, o meio-irmão) apaixona-se por ela.
ÔÔÔÔPAAA!
Temos uma trama que ferve, certo? Que nada!
Estácio torna-se um cri-cri de torrar a paciência de qualquer santo e Helena...
Bem, vou fazer um breve bate-bola, tipo perguntas-e-respostas pra vocês terem uma ideia de porquê tenho tanta bronca desta história:
- Quem mais engole sapos na história? Helena.
- Quem é mais martirizada? Helena.
- Quem mais chora? Helena.
- Quem menos tem culpa da confusão toda? Helena.
Sei que muita gente gosta da trama. Entendo e acho que é um livro a ser lido e até admirado, mas meu amor por Machado é bem pé no chão. Para mim, esta é uma história dura de aguentar. Não me queiram mal, é apenas a opinião de alguém que, como já disse, não tem distanciamento com a obra e leva tudo muito passionalmente.
...
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1878 |
Se IAIÁ GARCIA não tem a carga melodramática e fatídica de HELENA, em contrapartida, tem o elenco mais irritante de TODA a obra Machadiana (novamente, em minha opinião).
Jorge, filho único de Valéria, uma rica viúva, se apaixona por Estela. A mãe do rapaz, apesar de gostar da moça (que é um tipo de protegida sua), ao notar o interesse de Jorge, tem a doce ideia de mandar o filho para a Guerra do Paraguai e, assim, fazê-lo esquecer um amor tão abaixo de seu nível social.
Estela, orgulhosa como sei-lá-o-que, repele o cara (apesar de também ser apaixonada por ele) e o trata com um desprezo tal, que Jorge acaba concordando em ir para a guerra.
Só uma pergunta:
-Que tipo de pessoa manda um filho para guerra por motivo tão tosco?!!
Enfim... por intervenção de Valéria (sempre ela!), Iaiá torna-se enteada de Estela e quando Jorge volta da guerra o circo está armado.
Iaiá não simpatiza com ele, pois acha que seu pai dá ao moço mais atenção do que devia. Mas, ao imaginar que existe algo entre Jorge e Estela, resolve conquista-lo e livrar o pai de uma possível traição.
"Iaiá agitava-se na alcova, de um para outro lado, desejosa e receosa ao mesmo tempo de ir ter com Estela. Duas vezes chegou à porta e recuou. Uma das vezes, voltando para dentro, deu com os olhos no retrato do pai que pendia junto à cabeceira, uma simples fotografia. Tirou-o dali, contemplou-o longamente a fronte austera e pura. Quê! Haveria na terra quem o amasse uma vez e não sentisse que o amor lhe dominaria a vida inteira? Tão afetuoso! Tão bom! Vivendo exclusivamente para os seus, sem nada invejar ao resto dos homens. Isto lhe dizia o coração, enquanto ela ia beijando o retrato com respeito, com amor, afinal com delírio."
E por aí vai...
Em defesa do livro devo registrar que o "vilão" Procópio Dias é uma personagem muito bem bolada, verossímil e dá uma chacoalhada na história.
É como sempre digo: Machado é Machado. Vou sempre amá-lo, de qualquer forma.
E família (mesmo de ficção) é família...a gente aguenta porque TEM QUE aguentar.
rsrsrsrs!
Um beijo e Ótimas leituras.