Palavras...

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quinta-feira, 31 de março de 2016

Relato de uma experiência: GUERRA E PAZ de Liev Tolstói

"A vida dos povos não cabe na vida de algumas pessoas, pois não foi encontrada a relação entre essas pessoas e os povos.A teoria de que tal relação está baseada na transferência da totalidade das vontades para um personagem histórico é uma hipótese não confirmada pela experiência histórica." (GUERRA E PAZ, p. 2438)




Não tenho competência técnica para fazer uma análise histórica, social ou política deste livro; tampouco sinto vontade de falar de GUERRA E PAZ sobre tais vieses.

É claro que estes aspectos são muito importantes e relevantes durante toda a narrativa, e o fato de Tolstoi contextualizar o drama levando em conta cada um deles nos ajuda a compreender a trama de modo mais profundo e, mais parcial também - eu diria. 

Afinal de contas, este é o relato de uma guerra (e de frágeis períodos de paz) feito por um Russo, apaixonado e devotado à sua pátria. 

Foi a paixão e a genialidade do texto de Liev Tolstoi que me mantiveram virando página após página, e querendo mais e mais.

Mas, este artigo tem por objetivo principal dizer que esta é uma leitura possível e que que você merece experimentar.


COSACNAIFY, 2.520 páginas
"O dinamismo com que a narrativa de Tolstói muda de perspectiva, abandonado os pressupostos de uma visão de mundo para adotar outros, com uma simples mudança de parágrafos, constitui um dos pontos fortes de sua técnica.Assim o leitor passa do soldado russo para o francês, do camponês para o senhor de terras, da filha para o pai, e até animais são envolvidos nesse deslocamento incessante." (p.17) 

Vamos lá. 

Os eventos fundamentais da trama acontecem de 1805 até 1812. 

(Todavia, o longo epílogo - dividido em 2 partes - tem sua primeira metade usada para mostrar ao leitor como estão vivendo os personagens centrais alguns anos depois de 1812.)

Enfim... 

Tolstoi conta a história da Rússia e arredores durante os turbulentos anos das invasões Napoleônicas. 

E se, por um lado, ele dispõe de um elenco com personagens bons, corretos e nobres, por outro não economiza ao expor o lado medonho de um conflito daquela dimensão. Todas mazelas, durezas, crueldades e mesquinharias são apresentadas sem photoshop.

GUERRA E PAZ tem todos seus elementos literários muito bem burilados e trabalhados à perfeição. 

O tempo, o espaço, os focos narrativos, o enredo, as pessoas do romance, estão onde estão por motivos fundamentados, e nenhuma cena acontece por acaso.

Os personagens e suas histórias são apresentados sem pressa e à medida que o livro avança, eles vão se conectando até formar o painel geral da obra.

Um livro lindíssimo, duríssimo, muito filosófico, e extremamente tocante. 

Tolstói faz isso mesmo: toca o coração do leitor e constrói um relação de forte empatia entre quem ler e aquilo que está sendo contado. 

As coisas iam acontecendo e eu:

- Ai-Meu-Deus! E agora? O que será? Como assim?

Muitas vezes, tarde da noite, caindo de sono e sem querer largar o livro.

Então, se você tiver a oportunidade, vivencie GUERRA E PAZ. Não se acanhe pelo tamanho do livro. Tem tanta trilogia "ok" por aí, com muito mais páginas ( e que a gente encara), mas que não nos proporcionam a milésima parte da experiência de ler um texto com este grau de genialidade.

Leia. Ou pelo menos tente.

E tenha certeza que terá em mãos uma obra prima: a MASTERPIECE!

Um beijo e ótimas leituras.

terça-feira, 8 de março de 2016

TRÊS ANOS de Tchekhov

"E, olhando para a esposa, que não o amava, ele pensava desalentado: 'Por que isso foi acontecer?'"


A vida cotidiana sem filtros...

Passando rapidamente, para atualizar meus registros de leituras do Desafio Livrada! 2016, e falar da terceira meta concluída: Uma novela.

Minha "primeira vez" com Tchekhov foi no ano passado quando li a coletânea A DAMA DO CACHORRINHO E OUTROS CONTOS

Fiquei caidinha da Silva... (LINK)

Agora, com a leitura de TRÊS ANOS, ao mesmo tempo em que confirmei a habilidade dele para apresentar personagens e situações, me deparei com uma melancolia, que, se havia em algum daqueles outros textos, não apareceu (para mim) de modo tão intenso quanto aqui.

Melancólico...

A trama é simples. 

Láptiev se apaixona por Iúlia, mas não é correspondido. Mesmo assim, a moça acaba casando com ele. 

Insatisfação garantida! 

E o peso do equívoco - dos dois - vai ficando cada vez mais difícil de ser carregado.


Três Anos
Editora 34, 154 páginas

 "Em TRÊS ANOS, de 1895, Tchekhov já havia deixado de lado o humor presente em seus primeiros textos e adotado um tom bem mais melancólico ao abordar o homem e a sociedade de seu tempo. E justamente entrando no território dos dramas da alma humana, acompanhando os dilemas vividos por Aleksei Láptiev - filho de um próspero comerciante moscovita, apaixonado por uma mulher que não o ama -, Tchekhov apresenta ao leitor a mais importante pergunta sem resposta lançada nesta novela: como definir o amor?"


É um livro cheio de silêncios bem incômodos, mas que grita a genialidade de seu autor. 


Um beijo e ótimas leituras.