Palavras...

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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

ANNA KARIÊNINA de Liev Tolstói (em 1001 Livros para Ler Antes de Morrer)

"Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira." 



COSACNAIFY, 814 páginas.
"Tudo era confusão na casa dos Oblónski. A esposa ficara sabendo que o marido mantinha um caso com a ex-governanta francesa e lhe comunicara que não podia viver com ele sob o mesmo teto." 


A vida do príncipe Stiepan Arcadiditch Oblónski é puro desregramento. Ele come e bebe demais, gasta muito além de suas posses, é um marido infiel e pai relapso. Uma criatura horrorosa. O maior problema porém, é que todos ao seu redor parecem aceitar seu comportamento sem maiores revoltas. Há, certamente, uma repreensão aqui e acolá, mas no geral Stiva (apelido do sujeito) é bastante querido e até admirado. Quando a história com a governanta vem a tona, e Dolly declara que pretende se separar, não faltam pessoas que corram ao socorro DELE. 

É em em meio a esta confusão que conhecemos Anna, irmã de Stiva, que viaja de São Petersburgo até Moscou para servir de mediadora entre marido e mulher, e tentar convencer a cunhada de que um eventual perdão é a coisa certa para a relação do casal.  Resumindo a opera; Oblónski é perdoado. E como todo bom patife que é perdoado, continua aprontando, im-pu-ni-men-te. 

ANNA KARIÊNINA é, em meu ponto de vista, um estudo sobre a hipocrisia social. Sobre como aos homens tudo é permitido, enquanto as mulheres devem baixar a cabeça e se comportarem como cordeirinhos submissos, se quiserem ser aceitas pelo meio. 

Sigamos com a trama. 

Anna é casada com um homem bom. Meio chato, meio sem sal, porém descente. Ela não vibra dentro do casamento, mas está bem "instalada", digamos assim. Ela tem um filho a quem adora e a vida é sossegada. Mas ela conhece e se apaixona por outro, e é correspondida. É amor verdadeiro o que acontece, aí tudo se complica. 

Pausa para alguns esclarecimentos. 

Não vou defender a relação de Anna e Vrónski. Nem vou entrar no mérito de que os dois me irritaram profundamente, em várias ocasiões, pois não é isso que mais pesa no livro de Tolstói. O que me deixa possessa em histórias como esta, é constatar a disparidade entre o tratamento dado - no caso específico - a Oblónski e a sua irmã.

Vejamos: 

Stiva traía sistematicamente sua esposa. Não queria separar-se por que a esposa era um esteio financeiro. Estava pouco ligando para os filhos e... TUDO BEM!!!

Anna foi impetuosa, inconsequente, mas abriu o jogo com o marido logo de cara. Ela NÃO queria uma vida dupla, ela NÃO queria ser "discreta" (no sentido em que "ser discreta" significa ter um caso extra-conjugal por baixos dos panos, para manter as aparências) e apesar de todas as burradas que ela faz - e faz várias - ela é verdadeira. 

Voltando:

Anna assume a relação e torna-se uma pária. Ela ama, é amada, mas é incompleta. O meio social em que está inserida não permite que ela tenha uma vida plena, e aí reside o caminho para sua danação.

Eu não piscava nos momentos finais...

Tolstói constrói uma narrativa muito envolvente e recheada de personagens riquíssimos. Mesmo o outro protagonista do livro, Liévin, um queridinho meu e de muitos leitores, não é isento de defeitos ou mesquinharias, e está longe da perfeição. Mas isto é matéria para outro artigo.


Livrasso!

Um Clássico com questões ainda muito atuais, eu diria...

Um beijos e ótimas leituras.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

"WISHLISTANDO" - Volume 1.

Eu me pergunto: Como manter a sanidade em um mundo de infinitas tentações literárias?


Eu mesma respondo: Impossível ;)


Leitores não tem sossego. Quanto mais a gente lê, mais livros surgem na "timeline" de nossa vida. 

Observemos algumas evidências:

- Cá vivia eu, me contorcendo de arrependimento (mas já levemente conformada) por não ter comprado um certo livro, de uma certa editora* (que encerrou seus serviços) quando, de repente, uma outra editora - esta sim, bem viva e saltitante - divulga em seu perfil do INSTAGRAN que, em breve, reeditará o tal livro;  


- A pessoa (eu, de novo) está relendo ANNA KARIÊNINA e descobre que existe um livro de Nabokov que destrincha a obra de vários autores russos, sendo Tolstói um dos mais "paparicados" pelo texto;

- Assinamos canais maravilhosos no YOUTUBE, que fazem indicações muito convincentes. Quando damos por nós, já estamos pesquisando, alucinadamente, nas livrarias online (outra fonte inesgotável de tentações) em busca de ofertas que contenham aqueles títulos.

*Ainda choro pela COSAC.


É por estas e outras que resolvi fazer o exercício de Wishlistar por aqui os meus "alvos". Vamos aos primeiros! 





O SOM E A FÚRIA
Autor: William Faulkner
Editora: Companhia das Letras
376 páginas 
*Lançamento previsto para 27 de setembro de 2017.

"O som e a fúria, de 1929, é considerada a obra mais importante do escritor norte-americano ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1949. O romance surgiu em um período de isolamento, depois que o autor teve seu terceiro romance recusado por diversas editoras. Abalado, William Faulkner investiu num estilo ousado, tecido por quatro vozes narrativas distintas e saltos inesperados no tempo. É dessa forma, permeada por tons bíblicos e ecos de tragédias gregas, que o escritor retrata a violenta decadência dos Compson, família aristocrática do sul dos Estados Unidos, que parece viver num desnorteante presente em estado bruto. Com tradução de Paulo Henriques Britto e uma análise crítica de Jean-Paul Sartre publicada em 1939, o clássico de Faulkner ganha nova e definitiva edição."





A LITERATURA COMO REMÉDIO
Autor: Dante Gallian
Editora: Martin Claret
216 páginas

"Não há dúvida de que a leitura dos grandes clássicos da literatura universal seja um meio privilegiado para o nosso desenvolvimento intelectual e cultural. Mas e se nos dissessem que, além disso, esta leitura pode nos curar de muitas doenças da alma? Baseado numa experiência desenvolvida originalmente numa escola de medicina, este livro fala sobre um experimento (o Laboratório de Leitura) que, partindo da leitura e discussão coletiva dos clássicos, tem propiciado um poderoso efeito humanizador e terapêutico que vem transformando a vida de muitas pessoas."





EM TEU VENTRE
Autor: José Luís Peixoto
Editora: Companhia da Letras
160 páginas

"As aparições de Nossa Senhora a três crianças em Fátima, interior de Portugal, entre maio e outubro de 1917, são o pano de fundo deste delicado romance de José Luís Peixoto, que lança um olhar inusitado sobre um dos episódios mais emblemáticos do século XX no país. Tomando como protagonista a mãe de Lúcia, a mais velha dos três pastorinhos que teriam presenciado o milagre, o autor investiga questões profundas de fé e de ruralidade, mas sobretudo a relação entre mães e filhos. A maternidade, como bem indica o título, é o ponto fundamental deste livro. Com rigor histórico e extrema beleza ficcional, esta é uma história permeada de assombro, milagre e poesia."






A MULHER CALADA
Autora: Janet Malcom
Editora: Companhia de Bolso
240 páginas


"Uma das poetas mais originais do século XX, Sylvia Plath se suicidou no inverno de 1963, poucos meses depois de se separar do marido, o também poeta Ted Hughes. Esse gesto último selou, em torno de sua vida e sua obra, um campo de forças tão poderoso que ainda hoje continua a opor não só os vivos aos mortos, como todos os que sobreviveram à tragédia. 
Neste livro, Janet Malcolm se debruça sobre todas as biografias já escritas sobre Sylvia Plath, além de adentrar um intrincado mundo de cartas, arquivos e delicadas situações familiares. Dotada de elegância e senso narrativo excepcionais, Malcolm mescla psicanálise, poesia, biografia e reportagem, num ensaio de amplitude e profundidade surpreendentes, capaz de envolver o leitor com o magnetismo de uma trama policial."






LIÇÕES DE LITERATURA RUSSA
Autor: Vladimir Nabokov 
Editora: Três Estrelas
400 páginas


"Durante as décadas de 1940 e 1950, o escritor russo Vladimir Nabokov realizou em universidades americanas uma série de cursos sobre alguns dos pilares da literatura de seu país: Gógol, Turguêniev, Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov e Górki. 
Apenas em 1981 as aulas foram reunidas em livro nos Estados Unidos, graças ao editor Fredson Bowers, que organizou as anotações deixadas pelo autor de Lolita. Essas lições preciosas são agora publicadas pela primeira vez no Brasil. 
Nabokov analisa os principais livros e temas dos expoentes da literatura russa do século XIX, bem como seus métodos de criação. O escritor não se furta a revelar sua admiração por Tolstói e demais predileções: "Aquele que prefere Dostoiévski ou Górki a Tchekhov nunca será capaz de apreender a essência da literatura e da vida russas". 
Além de desfazer equívocos e chavões sobre a Rússia e seus autores, Nabokov transforma essas lições em exercícios de liberdade, opondo-se de maneira implacável e irônica aos dogmas da crítica literária e às ideologias políticas."

FONTE: www.amazon.com.br 


Um beijo e ótimas leituras.

domingo, 30 de julho de 2017

Não é resenha, é experiência: SÉRIE NAPOLITANA de Elena Ferrante.

"Eu, não, nunca usei nem o primeiro nem o segundo nome. Há quase sessenta anos, para mim ela é Lila. Se a chamasse de Lina ou de Raffaella, assim de repente, ela acharia que nossa amizade acabou." 



Os quatro volumes da SÉRIE NAPOLITANA voaram em minhas mãos a partir do momento em comecei a ler as primeiras linhas de cada um deles. 

Não os li de uma sentada, porém. 

Pra vocês terem uma ideia, entre a leitura do primeiro  e segundo volumes, houve um hiato de treze meses. 

É bem verdade que estes espaços temporais foram  sendo reduzidos: entre o término do segundo e o início do terceiro foram só seis meses; entre o término do terceiro e a conclusão o do último volume foram quinze dias. 

Quin-ze-di-as...

Fiquei muito fissurada nos momentos finais!!!

331 páginas. Lido em Nov./2015.


471 páginas. Lido em Dez./2016.

415 páginas. Lido em Jun./2017.

476 páginas. Lido em Jul./2017.

Os livros são publicados pela Editora Globo, sob o selo BIBLIOTECA AZUL.

A série é narrada por Elena Greco que conta a história de sua vida e de sua melhor amiga, Rafaella Cerullo. O cenário é Nápoles e arredores e o tempo vai desde o pós Segunda Guerra até o início dos anos 2000.

Para mim foram 1.693 páginas das mais diversas emoções. Entretanto, no final das contas, o que me manteve envolvida, durante e após as leituras, foi o sentimento de profunda empatia que desenvolvi por Lila e Lenu. 

Já que sou daquelas leitoras que não conseguem se distanciar do que lêem, a cada situação eu fica penalizada, angustiada, raras vezes feliz, e ao final, devastada pela duríssima realidade apresentada...

Ter uma inteligência muito acima da média e não poder se educar, poder se educar e se sentir sempre a um passo atrás, sofrer violência física, moral e emocional e não ter ninguém para lhe defender, ser aprisionada pela maternidade em uma sociedade em que tudo é exigido deste papel, esperar para os filhos uma vida melhor e não ter a certeza do resultado... foram temas que mexeram muito com meu pobre coração.  

Não tenho como avaliar qual dos quatro volumes mais gostei, pois os li como uma obra única, e por isso mesmo avalio a SÉRIE NAPOLITANA, por inteiro, como um grande livro. Pode ser que haja uma falha literária aqui e ali, contudo, para mim, o texto de Ferrante fez o que eu sempre espero do trabalho de um grande artista; me marcou para o resto da vida.


Elena Ferrante me deixou de pernas bambas...

Um beijo e ótimas leituras.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

A LINGUAGEM DO AMOR de Lola Salgado.

Ah o Amor...

Amazon (em e-book para KINDLE), 9163 KB / 660 páginas

"Aos 17 anos, a única coisa que realmente importa para Rebecca é se formar com louvor na faculdade de Letras para, no futuro, realizar o sonho de trabalhar em uma grande editora, perto de todos os livros de fantasia incríveis com os quais cresceu. Morando em uma nova cidade e longe da proteção dos avós, por quem foi criada, ela lutará para não seguir os passos errantes da mãe. Estaria tudo dentro dos conformes se não fosse os murmurinhos percorrendo os corredores da universidade: Adônis, o novo professor de Produção Textual, é um verdadeiro carrasco. Rude, solitário e mal-humorado, ele tenta, na verdade, fugir dos fantasmas do passado."


  Senhoras e Senhores, alguém tem alguma dúvida de que
Rebecca e Adônis terminarão juntos? 

  Pois é... 

  Dúvida ZERO! 

  Mas ouso dizer que isto não tem importância (ou tem pouquíssima) pois A LINGUAGEM DO AMOR é uma história basicamente esteada em personagens, e são elas, muito mais que o enredo, as responsáveis por nos manter ligados ao livro do começo ao fim. 

  É bem verdade que algumas situações podem parecer um pouco arrastadas ou repetitivas, contudo, de modo geral, a história anda bem e os diálogos soam naturais e dinâmicos. O casal de protagonista tem uma boa química e o elenco de apoio é divertido.

  Ah! E é reconfortante saber que amores e arrebatamentos românticos ainda são possíveis, mesmo em um cenário livre de milionários, carros de luxo e afins. 

  A jovem autora é dona de uma escrita fluida, bem conectada e, na minha opinião, qualquer pessoa que consiga manter um mínimo de nexo causal por mais de 600 páginas é digna de nota. Merece meu respeito. 

  Mas, se um conselho é permitido, eu diria para ela evitar, em obras futuras, o excesso de citações e expressões do tipo "Pelas flechas de Fulana...", ou "Pelo anel de Sicrano...". Vejam bem, não são coisas fundamentalmente erradas, porém destoam pelo uso em demasia. 

  No mais, acredito que Lola Salgado tem potencial e, obviamente, a energia necessária para continuar produzindo e aprimorando seu texto. 


  - Well done!



Um beijo e ótimas leituras.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Eu recomendo: A FILHA PERDIDA de Elena Ferrante

"Eu queria está pronta para lidar com os pedidos repentinos de ajuda, temia que me acusassem de ser como eu de fato era: distraída ou ausente, absorta em mim mesma." 

Intrínseca, 174 páginas
   
   Leda é uma professora universitária de 48 anos. Quando suas duas filhas, já adultas, resolvem se mudar para morar com o pai no Canadá ela sente uma estranha leveza. 


"Senti-me milagrosamente desvinculada, como se um trabalho difícil, enfim concluído, não fosse mais um peso sobre os meus ombros."

   Chegam as férias de verão e ela resolve viajar ao litoral do sul da Itália para - por assim dizer - recarregar as baterias e preparar as aulas do novo semestre. Em suas visitas diárias à praia, Leda começa a prestar atenção em uma barulhenta família napolitana. Duas figuras em especial, uma jovem mãe e sua filhinha, a deixam tão impressionada que a observação começa a tomar contornos obsessivos. 

"Um dia levantei os olhos e as vi pela primeira vez: a mulher extremamente jovem e a menina. Estavam voltando do mar em direção do guarda-sol; ela, com não mais do que vinte anos, a cabeça baixa, e a garotinha, de três ou quatro anos, fitando-a de baixo, encantada, enquanto segurava uma boneca da mesma maneira que uma mãe carrega uma criança de colo."

  É a partir daí que a protagonista (também narradora da história) relembra seu passado, revelando, pouco a pouco, nuances profundas de sua natureza. Leda é uma pessoa difícil, portanto uma personagem fascinante, e Elena Ferrante uma escritora primorosa, que cativa nossa atenção desde as primeiras linhas.

Um beijo e ótimas leituras.

sábado, 3 de junho de 2017

Música: JUNHO de Alceu Valença

Pois o mês começou doido, gris e bolorento... mas vai melhorar.





JUNHO

Eu sei que é junho, o doido e gris seteiro
Com seu capuz escuro e bolorento
As setas que passaram com o vento
Zunindo pela noite, no telheiro

Eu sei que é junho!

Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento

Eu sei que é junho, o barro dessas horas
O berro desses céus, ai, de anti-auroras
E essas cisternas, sombra, cinza, sul

E esses aquários fundos, cristalinos
Onde vão se afogar mudos meninos
Entre peixinhos de geleia azul.


Alceu Valença


terça-feira, 16 de maio de 2017

Poema: ALMA ERRADA de Mario Quitana.

Tem coisa que só a poesia expressa...





    ALMA ERRADA

Há coisas que a minha alma, já tão mortificada, não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há... e quem é que hoje faz questão de virgindades...
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. 
(Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido...

Mario Quintana

terça-feira, 9 de maio de 2017

Contos de Machado que recomendo (#8): AS BODAS DE LUÍS DUARTE

Carregado de referências, no mínimo curiosas, este conto tem uma forte atmosfera de comédia de situações.



   AS BODAS DE LUÍS DUARTE que está no livro Histórias da Meia-noite, começa com a descrição dos preparativos para o grande evento. José Lemos - pai da noiva - responsável pelo o arranjo da da sala, havia comprado no dia anterior duas gravuras para ornar as paredes do ambiente:

GRAVURA 1:

A MORTE DE SARDANAPALO - Delacroix, 1827

* Sardanapalo foi (segundo uma rápida pesquisa) o ultimo rei assírio que, para não cair nas mão do inimigo resolveu suicidar-se. Para isso mandou construir uma enorme pira funerária, na qual jogou todas suas posses (cito: ouro, prata, trajes reais, eunucos e concubinas) seguindo ele o mesmo caminho na sequencia. O detalhe bizarro da história é que parece que Sardanapalo esperou para certificar-se de que tudo e todos estavam devidamente queimados para só então pular no fogo.

- C R E E P Y !!!


GRAVURA 2:  

EXECUÇÃO DE MARIA STUART - Vanutelli, 1861

** Maria, rainha dos escoceses, foi executada por traição em 08 de fevereiro de 1587.

  Por que cargas d´água alguém escolheria este tipo de adorno para um dia de núpcias? A justificativa de José Lemos tem lógica para ele, mas para o leitor deixa uma sensação de preságio tragicômico sobre o futuro do casal.

"Houve alguma luta entre ele e a mulher a respeito da colocação da primeira gravura. D. Beatriz achou que era indecente um grupo de homem abraçado com tantas mulheres. Além disso , não lhe parecia próprios dous quadros fúnebres em dia de festa. José Lemos, que tinha sido membro de uma sociedade literária, quando era rapaz, respondeu triunfantemente que os dous quadros eram históricos, e que a história está bem em todas as famílias. Podia acrescentar que nem todas famílias estão bem na história; mas este trocadilho era mais lúgubre que os quadros."                                   
  Além destas, outras referencias aparecem ao longo do conto realçando ainda mais a força da ironia do escritor. 

EDITORA GLOBO, 154 páginas

  Para completar a graça desta história, Machado estava implacavelmente inspirado quando bolou a descrição das personagens. José Lemos e D. Beatriz formam um casal estranho que colocou no mundo duas filhas ligeiramente sonsas e dois filhos, irmãos sobretudo na preguiça e na gulodice. 

  O noivo que demora pra chegar, o convidado com cabeça de jaca, o outro com artificial ar gravíssimo, os que só pensam na hora do jantar, são o retrato de um grupo sem real consideração pelo evento das bodas e que só pensa na própria imagem e satisfação.

  Dei muitas e boas risadas...


Um beijo e ótimas leituras.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

OS MAIAS de Eça de Queirós (em 1001 Livros para Ler Antes de Morrer).

"Eu poderia dizer que, ao fim e ao cabo, OS MAIAS são um romance sobre o espaço, onde a "geografia" de um país, de uma cidade, mas também de várias casas e de muitos corpos é percorrida pelo olhar atento de um narrador que nunca duvidou de que era por detrás das superfícies que as verdades se escondiam." (Monica Figueiredo)

Entrada de OS MAIAS em 1001 para Ler Antes de Morrer

"A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa no outono de 1875 era conhecida na vizinhança da rua de São Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete." (p.7)

Zahar, 574 páginas

"Obra máxima de Eça de Queirós, marco da literatura portuguesa, OS MAIAS envolve o leitor na irresistível atmosfera de Lisboa de fins do século XIX. Tendo como protagonistas Afonso, Pedro e Carlos Eduardo da Maia, e apresentando outros personagens memoráveis, como João da Ega, Dâmaso Salcede, Maria Eduarda e o casal Gouvarinho, narra a trajetória de uma família, a história de uma amor impossível e os rumos de um país. Eça dá vida a um refinado jogo social e compõe um panorama da cultura e dos problemas sociais e políticos do seu tempo, numa prosa limpa, cortante e inigualável."
...

OS MAIAS é uma história que, desde o primeiro contato em 1994 (sim, eu lembro o ano), não saiu mais de minha vida. O livro me tocou de modo tão marcante que, durante as semanas seguintes àquela primeira leitura, não saia da minha cabeça. Foi a minha terceira experiência com o escritor, antecedida pelos indefectíveis O CRIME DO PADRE AMARO e O PRIMO BASÍLIO

Eça de Queirós me deixou abismada nas leituras anteriores, porém, o que senti com OS MAIAS foi algo tão peculiar que, aos 21 anos, eu não sabia como definir.

Em 2001 saiu aqui no Brasil uma belíssima adaptação televisiva. Esta dramatização apresenta algumas diferenças em relação ao texto original, todavia, considero que a essência e - mais importante - o espírito da história foi capturado e transmitido brilhantemente. Quando a série chegou ao fim, após semanas me arrancando lagrimas copiosas, eu reli alguns trechos do livro. OS MAIAS  colaram de vez em minha alma. 

Livro, trilha sonora, DVD e, hoje em dia, tudo que posso encontrar na internet sobre o tema, me atraem e eu vou - feito mariposa para luz - ler, ouvir, assistir de novo, e de novo, e de novo...

Foi inevitável adquirir esta edição lançada pela Zahar em 2014.


Contra-capa e folha de rosto

Chego ao final de uma nova leitura (completa) com a alma transbordando de Afonso, Maria Eduarda, Carlos, Pedro, Maria Monforte, Ega, Rosicler... 

E hoje, aos 44 anos, consigo entender, um pouco melhor, as sensações tão difíceis de nomear, e que resultaram naquele primeiro nó de garganta vivido em 1994.

Empatia profunda com um texto. Desgosto pelos personagens vencidos, quando tinham tudo para serem vencedores. Tristeza diante das tragédias sofridas. Deslumbramento por testemunhar a potência literária de um autor.

- Ainda agora, escrevendo estas impressões, minha garganta dói, e meus olhos se enchem.

...


Mas, para não deixar a impressão de que OS MAIAS é tão somente "um romance do desencanto", afirmo que dei muita risada com a ironia de Eça de Queirós

Como prova, deixo aqui uma lista de algumas das melhores frases que encontramos pelo caminho.



"Num país em que a ocupação geral é estar doente, o maior serviço patriótico é incontestavelmente saber curar." (p.73)

- Enfim - exclamou o Ega - se não aparecem mulheres, importam-se, que é em Portugal para tudo recurso natural. Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos da Alfândega: e é de segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas..." (p.91)

 "Carlos achava deliciosa aquela naturalidade mefistotélica com que o Ega o induzia a quebrar uma infinidade de leis religiosas, morais, sociais, domésticas..." (p.159)

"- Acredite você uma coisa, Craft - terminou ele por dizer, cedendo ao Taveira, que o puxava para a mesa - isto de consciência é uma questão de educação. Adquire-se como as boas maneiras; sofrer em silêncio por ter traído um amigo, aprende-se exatamente como se aprende a não meter a mão no nariz. Questão de educação... No resto da gente é apenas  medo da cadeia, ou da bengala..." (p.174)

 "Uma das senhoras de preto fazia votos para que se aliviassem os estudos. As pobres crianças sucumbiam verdadeiramente à quantidade exagerada de matérias , de coisas a decorar: o dela, o Joãozinho, andava tão pálido e tão desfigurado, que ela às vezes tinha vontade de o deixar ficar ignorante de todo." (p.234)   

"Tudo na terra, meu Dâmaso, é aparência e engano."(p.298) 

"- Pois então façam vocês essa revolução. Mas pelo amor de Deus, façam alguma coisa!" (p.302)

"- Essa necessidade de banhos morais está-se tornando, com efeito, tão frequente... Devia haver na cidade um estabelecimento para eles. (p.379) 

"Mas Ega entendia que que o Sr. Afonso da Maia devia descer à arena, lançar também a palavra do seu saber e da sua experiência. Então o velho riu. O quê! Compor prosa, ele, que hesitava para traçar uma carta ao feitor? De resto, o que teria a dizer ao seu país, como fruto da sua experiência, reduzia-se pobremente a três conselhos, em três frases - aos políticos: "menos liberalismo e mais caráter"; aos homens de letra: "menos eloquência e mais ideia"; ao cidadão em geral: "menos progresso e mais moral". (p.439)  

"Falhamos a vida, menino!" (p.549) 






PS: A edição da Zahar é muito boa, apesar de uma pouco pesada. Prestem atenção no posfácio de Monica Figueiredo.



Um beijo e ótimas leituras.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Eu recomendo: ANTES DO BAILE VERDE de Lygia Fagundes Telles

"Lygia Fagundes Telles sempre teve o alto mérito de obter, no romance e no conto, a limpidez adequada a uma visão que penetra e revela, sem recurso a qualquer truque ou traço carregado, na linguagem ou na característica."


A linda Lygia

ANTES DO BAILE VERDE é um livro estranho. Fico pensado como deve ser a reação padrão dos "leitores comuns" aos seus contos. Digo "comuns" para me referir a leitores como eu, que chegam ao livro sem saber muito sobre ele,e que se pegam pensado: "Será que eu entendi direito?" 

Posso estar divagando, e passar a impressão de que o livro não me agradou, mas o livro me deixou deslumbrada. Sendo a estranheza dele um dos fatores que mais contaram para estre deslumbramento.

Companhia das Letras, 205 páginas 

São 18 contos que, em comum entre si, têm os retratos de como as pessoas se comportam e reagem às tragédias, frustrações e decepções nas quais tropeçam pela vida à fora. Nada é muito explicado e as histórias, em sua maioria, terminam em um corte, segundos antes de ser revelada a consequência da ação narrada.

Como eu disse; estranho. Todavia brilhante e incrivelmente bem feito. Não temos respostas, mas nos inundam as sensações do que, potencialmente, poderá (poderia) vir em sequencia.

Todos os contos são muito bons, porém, se eu tivesse que eleger os meus favoritos seriam eles:

- VERDE LAGARTO AMARELO
- HELGA
- MEIA-NOITE EM PONTO EM XANGAI
- O JARDIM SELVAGEM
- UM CHÁ BEM FORTE E TRÊS XÍCARAS
- O MENINO 

Lygia Fagundes Telles é uma mestra em tantos níveis de excelência que nem dá pra explicar. Só posso dizer, "leia e testemunhe a genialidade da pessoa!" 


Um beijo e ótimas leituras.