Palavras...

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quinta-feira, 30 de março de 2017

Eu recomendo: ANTES DO BAILE VERDE de Lygia Fagundes Telles

"Lygia Fagundes Telles sempre teve o alto mérito de obter, no romance e no conto, a limpidez adequada a uma visão que penetra e revela, sem recurso a qualquer truque ou traço carregado, na linguagem ou na característica."


A linda Lygia

ANTES DO BAILE VERDE é um livro estranho. Fico pensado como deve ser a reação padrão dos "leitores comuns" aos seus contos. Digo "comuns" para me referir a leitores como eu, que chegam ao livro sem saber muito sobre ele,e que se pegam pensado: "Será que eu entendi direito?" 

Posso estar divagando, e passar a impressão de que o livro não me agradou, mas o livro me deixou deslumbrada. Sendo a estranheza dele um dos fatores que mais contaram para estre deslumbramento.

Companhia das Letras, 205 páginas 

São 18 contos que, em comum entre si, têm os retratos de como as pessoas se comportam e reagem às tragédias, frustrações e decepções nas quais tropeçam pela vida à fora. Nada é muito explicado e as histórias, em sua maioria, terminam em um corte, segundos antes de ser revelada a consequência da ação narrada.

Como eu disse; estranho. Todavia brilhante e incrivelmente bem feito. Não temos respostas, mas nos inundam as sensações do que, potencialmente, poderá (poderia) vir em sequencia.

Todos os contos são muito bons, porém, se eu tivesse que eleger os meus favoritos seriam eles:

- VERDE LAGARTO AMARELO
- HELGA
- MEIA-NOITE EM PONTO EM XANGAI
- O JARDIM SELVAGEM
- UM CHÁ BEM FORTE E TRÊS XÍCARAS
- O MENINO 

Lygia Fagundes Telles é uma mestra em tantos níveis de excelência que nem dá pra explicar. Só posso dizer, "leia e testemunhe a genialidade da pessoa!" 


Um beijo e ótimas leituras. 


quarta-feira, 1 de março de 2017

RESTOS DO CARNAVAL de Clarice Lispector

"Seu olhar passava por cima das regras, quase voraz em sua busca da essência."


ELA



Neste conto (provavelmente autobiográfico) a narradora conta o que o Carnaval despertava em sua alma e relembra uma situação ocorrida durante as folias de Momo, em Recife, quando ela era criança. 

Eu gosto muito deste texto. É poético, melancólico com pequenos rompantes de alegria, e fala de Recife - hoje tão castigada pela violência urbana e a brutalidade dos tempos modernos - por uma ótica bela, inocente, perdida. 



Coma a mãe da protagonista tinha uma saúde debilitada, e a família vivia assombrada pelo problema, ela nunca podia brincar o carnaval e precisava contentar-se com o papel de espectadora passiva daquele momento mágico. 

Algo acontece, porém, e lhe dá a chance de, pela primeira vez, aos oito anos, penetrar neste universo mágico. 

"Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. (...) Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu apelo mudo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara do material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma."

Até quem não gosta de Carnaval vai se comover com os dramas e dilemas da pequena foliã.

O conto faz parte do lindo livro FELICIDADE CLANDESTINA. 

Editora ROCCO, 159 páginas

Um beijo e ótimas leituras!