Palavras...

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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

ANNA KARIÊNINA de Liev Tolstói (em 1001 Livros para Ler Antes de Morrer)

"Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira." 



COSACNAIFY, 814 páginas.
"Tudo era confusão na casa dos Oblónski. A esposa ficara sabendo que o marido mantinha um caso com a ex-governanta francesa e lhe comunicara que não podia viver com ele sob o mesmo teto." 


A vida do príncipe Stiepan Arcadiditch Oblónski é puro desregramento. Ele come e bebe demais, gasta muito além de suas posses, é um marido infiel e pai relapso. Uma criatura horrorosa. O maior problema porém, é que todos ao seu redor parecem aceitar seu comportamento sem maiores revoltas. Há, certamente, uma repreensão aqui e acolá, mas no geral Stiva (apelido do sujeito) é bastante querido e até admirado. Quando a história com a governanta vem a tona, e Dolly declara que pretende se separar, não faltam pessoas que corram ao socorro DELE. 

É em em meio a esta confusão que conhecemos Anna, irmã de Stiva, que viaja de São Petersburgo até Moscou para servir de mediadora entre marido e mulher, e tentar convencer a cunhada de que um eventual perdão é a coisa certa para a relação do casal.  Resumindo a opera; Oblónski é perdoado. E como todo bom patife que é perdoado, continua aprontando, im-pu-ni-men-te. 

ANNA KARIÊNINA é, em meu ponto de vista, um estudo sobre a hipocrisia social. Sobre como aos homens tudo é permitido, enquanto as mulheres devem baixar a cabeça e se comportarem como cordeirinhos submissos, se quiserem ser aceitas pelo meio. 

Sigamos com a trama. 

Anna é casada com um homem bom. Meio chato, meio sem sal, porém descente. Ela não vibra dentro do casamento, mas está bem "instalada", digamos assim. Ela tem um filho a quem adora e a vida é sossegada. Mas ela conhece e se apaixona por outro, e é correspondida. É amor verdadeiro o que acontece, aí tudo se complica. 

Pausa para alguns esclarecimentos. 

Não vou defender a relação de Anna e Vrónski. Nem vou entrar no mérito de que os dois me irritaram profundamente, em várias ocasiões, pois não é isso que mais pesa no livro de Tolstói. O que me deixa possessa em histórias como esta, é constatar a disparidade entre o tratamento dado - no caso específico - a Oblónski e a sua irmã.

Vejamos: 

Stiva traía sistematicamente sua esposa. Não queria separar-se por que a esposa era um esteio financeiro. Estava pouco ligando para os filhos e... TUDO BEM!!!

Anna foi impetuosa, inconsequente, mas abriu o jogo com o marido logo de cara. Ela NÃO queria uma vida dupla, ela NÃO queria ser "discreta" (no sentido em que "ser discreta" significa ter um caso extra-conjugal por baixos dos panos, para manter as aparências) e apesar de todas as burradas que ela faz - e faz várias - ela é verdadeira. 

Voltando:

Anna assume a relação e torna-se uma pária. Ela ama, é amada, mas é incompleta. O meio social em que está inserida não permite que ela tenha uma vida plena, e aí reside o caminho para sua danação.

Eu não piscava nos momentos finais...

Tolstói constrói uma narrativa muito envolvente e recheada de personagens riquíssimos. Mesmo o outro protagonista do livro, Liévin, um queridinho meu e de muitos leitores, não é isento de defeitos ou mesquinharias, e está longe da perfeição. Mas isto é matéria para outro artigo.


Livrasso!

Um Clássico com questões ainda muito atuais, eu diria...

Um beijos e ótimas leituras.