Palavras...

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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Querido Umberto Eco...






Recife: 20 de Fevereiro de 2016

Querido Umberto Eco,

Quando eu li O NOME DA ROSA alguma coisa explodiu dentro de mim. Explodiu mesmo! O livro não saía da minha cabeça.

Eu ficava pensando em Guilherme o tempo todo e queria ser Adso - só para ficar junto dele. 

Foi uma paixão que se intensificava a cada página. 

Até hoje, vinte e tantos anos depois da primeira leitura, pensar em Guilherme faz meu coração se aquecer, e volto a sentir as faíscas daquela explosão.

Devo ao seu livro minha transformação como leitora, pois foi a partir dele que tomei gosto por temas mais profundos e foi com ele que, pela primeira vez, senti a necessidade de refletir e organizar minhas ideias sobre aquilo que estava lendo. Seu livro, na verdade, me ensinou o que é LER. 

Então, o que eu quero dizer é: 

Muito, muito obrigada! Não sei quantos leitores você tocou, formou, transformou - acredito que muitos - mas para mim você foi um re-alfabetizador (se não exite isso, fica aqui inventado). 

Você, através de O NOME DA ROSA, me fez compreender que ler, além de divertido e prazeroso, é também necessário para que eu possa entender quem sou, em que mundo estou e que responsabilidades tenho perante a vida que me foi concedida.  

Mais uma vez, obrigada Umberto. 

Era isso que eu queria lhe dizer... 

Arrivederci!

Carla Monteiro 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Lidos: JANEIRO de 2016

Um ano que promete leituras para ficar na (minha) História :)



J A N E I R O 


Eu poderia nem ter lido mais coisa alguma, por que só a conclusão do primeiro volume de GUERRA E PAZ já me deixaria felicíssima. Mas não foi o caso. Além dele, li um gibi, e quatro livros.

Fiz um vídeo falando rapidamente sobre cada uma destas leituras e postei no facebook.com/salvapelolivro.


Vamos a mais alguns detalhes.

Comecei o mês bem na maciota lendo TURMA DA MÔNICA JOVEM. Levei o gibi pra praia e entre um mergulho e outro (e depois de muuuuitas risadas) concluí esta delícia com sabor de infância.

Turma da Mônica Jovem - Nº 62
Tão bom...

Depois eu li O PEQUENO PRÍNCIPE e BOM DIA, CAMARADAS. Já tem artigo com minhas impressões de leituras para os dois AQUI e AQUI .

Aí veio a leitura seguinte...

AAAHHH!!!! 

Sei que o ano está apenas começando, mas tenho quase certeza de que nada - N A D A - será pior do que o quarto livro lido em 2016.

A BIBLIOTECÁRIA de Logan Belle  é trash em tantos níveis que nem sei por onde começar. 

A Bibliotecária
FUJA!

A jovem Regina Finch acaba de chegar a Manhattan para trabalhar na Biblioteca Pública de Nova York. Mas o que parecia ser a promessa de uma rotina tranquila em meio a clássicos da literatura logo se revela um irresistível jogo de sedução quando ela conhece o envolvente Sebastian Barnes, investidor da instituição e um dos homens mais cobiçados da cidade, que fica obcecado pela beleza da bibliotecária. A até então ingênua Regina se entrega a um crescente e selvagem desejo que parece consumi-la mais a cada dia, uma paixão que despertará na jovem sensações jamais imaginadas." (SKOOB)

Li pelo KINDLE UNLIMITED, com a esperança de que fosse um romance erótico mais interessante do que os que têm mais destaque no mercado... Que nada! 

Acho que FINALMENTE aprendi a lição - hahaha! 

...

Meu querido Tolstói me salvou da crise de consciência. 

A conclusão do VOLUME 1 de GUERRA E PAZ me deixou nas nuvens. Só que vou deixar para escrever a respeito quando tiver lido até o fim.

Coisa Finíssima!

E a última leitura do mês, que também foi feita através do maravilhoso mundo do KINDLE UNLIMITED, foi uma grata surpresa, aos 44 do segundo tempo.

A LISTA DE BRETT de Lori Nelsonspielman é uma fofura de amolecer os corações.

A Lista de Brett
Lindinho...

"Brett Bohlinger parece ter tudo na vida — um ótimo emprego como executiva de publicidade, um namorado lindo e um loft moderno e espaçoso. Até que sua adorada mãe morre e deixa no testamento uma ordem: para receber sua parte na gorda herança, Brett precisa completar a lista de sonhos que escreveu quando era uma ingênua adolescente." (SKOOB)


Adorei!

Se puderem passem lá no FACEBOOK para dá um oi e assistir ao vídeo. E se quiserem deixem comentários e sugestões. 

Adoro papear sobre livros...

Um beijo e ótimas leituras.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

BOM DIA, CAMARADAS de Ondjaki

Segunda leitura concluída para o DESAFIO LIVRADA! 2016, na categoria UM ROMANCE DE FORMAÇÃO.


Companhia das Letras, 135 páginas

Romance de Formação ou Bildungsroman, é um estilo de narrativa inaugurado por Goethe, com o livro OS ANOS DE APRENDIZADO DE WILHELM MEISTER, e que aponta para obras nas quais é descrito o processo de desenvolvimento físico, moral, ideológico (etc etc), de uma personagem, normalmente a partir da infância.

No romance de Ondjaki temos apenas um curto período da vida do narrador - os meses finais de um ano letivo - contudo, neste espaço de tempo em que o menino conta a sua história, ele começa a entender, de modo mais claro e definitivo, o mundo que o rodeia e a realidade de seu país. 

"Na cidade de Luanda, quando a chuva cai e molha a terra, os cheiros da manhã ganham intensidade e despertam a imaginação de um menino - ou de um miúdo, como dizem os angolanos -  que vive com sua família na capital de Angola, durante os tempos da guerra civil. Todo dia, quando se levanta, o narrador deste livro sente a vida que se revela, os cheiros da casa e os movimentos do abacateiro. Sempre animado, dá o seu cumprimento aos pais e ao camarada António, o cozinheiro que trabalha na residência da família. Na escola, as crianças também gritam em uníssono, o seu bom-dia aos camaradas professores. Os mestres de quem mais gostam são os cubanos, como o camarada professor Ángel e sua esposa Maria, que estão em Angola para ajudar na luta pela educação e por um país melhor. A certa altura, uma grande inquietação toma conta dos alunos, pois a visita surpresa do inspetor de educação - ou mesmo um evento ainda pior, nestes tempos agitados - está para acontecer, quando menos se espera. Além disso, aproximam-se as provas de fim de ano, e todos estão empenhados nos estudos, ao mesmo tempo que sabem viver um momento de despedidas."

No começo do livro fiquei meio "assim" com a narrativa...

Afinal, o dia-a-dia de um menino - aparentemente entrando na adolescência - não guardaria temas de grandes interesses para um adulto.

Até que eu, como adulta, comecei a ler nas entrelinhas do discurso (aparentemente despreocupado) dele e passei a compreender quão séria era a situação da vida de todas as pessoas que viviam na Luanda de BOM DIA, CAMARADAS.
"Então também percebi que, num país, uma coisa é o governo, outra coisa é o povo." (p.24)
O tom matter of fact do narrador camufla muita tensão e medo. 

E a medida que a história avança, que tomamos conhecimento dos pormenores de como Angola funcionava, passamos a entender que a "despreocupação" é uma armadura, um mecanismo de auto-defesa, tão comumente desenvolvido por quem tem que lidar com a violência como parte de sua vida.
"Ê!, aqui em Luanda, não se pode duvidar das estórias, há muita coisa que pode acontecer e há muita coisa que, se não pode, arranja-se uma maneira de ela acontecer. Porra, aqui em Angola já não dá pra duvidar que uma coisa vai acontecer..." (p.104)

BOM DIA, CAMARADAS é um belo livro, que me levou às lágrimas, frutos de gargalhadas e de emoção. Uma história que me incomodou por mostrar como podemos nos acostumar com um monte das coisas feias deste mundo; até com uma guerra na porta de nossa casa.

Impossível não nos identificarmos ou não nos comovermos com a História de nossos irmãos de Língua Portuguesa, que têm um passado de colônia tão mais recente que o nosso, com cicatrizes ainda mais doloridas que as nossas.

Recomendadíssimo!

Um beijo e ótimas leituras.